Antes de mais nada, o termo “Design” em “Design instrucional” deve ser traduzido como projeto e não como “Desenho”. Assim, designers instrucionais são planejadores e não desenhistas.
Tenho conversado com inúmeras pessoas, de diversas áreas, sobre o verdadeiro poder das IA Generativas quando falamos em aplicações em ensino. Fico intrigado com o fato de como a maior parte das pessoas tende a enxergar estas tecnologias simplesmente como uma ferramenta para a produção de conteúdo e a estruturam opiniões, avaliações, análises e mesmo práticas a partir desta premissa. Isso vale tanto para os mais pessimistas quanto para os otimistas na aplicação deste tipo de ferramenta em processos educativos.
Dentre outras coisas, acredito que esta minha observação aponta para uma necessidade que será cada vez mais recorrente: a de um letramento em IA para profissionais de ensino. Saber o que é uma IA Generativa, como ela funciona, quais são suas limitações e onde está o seu verdadeiro potencial se tornou uma necessidade imprescindível para qualquer designer, em especial os designers instrucionais.
O maior poder das IA Generativas em contextos de ensino, ao menos neste momento, não está na sua capacidade de gerar conteúdo, isso porque existe uma limitação intrínseca da tecnologia relacionada à forma como elas foram construídas. O verdadeiro poder das IAs está na sua capacidade de servir como copiloto em contextos onde educadores precisam analisar, categorizar, reorganizar, sistematizar, ordenar, qualificar, infinidade de outros verbos relacionados ao planejamento. Perceba que quase todos estes verbos estão relacionados ao projeto e ao planejamento, em outras palavras, ao “Design educacional”. Na verdade, na contramão do que a maior parte das pessoas acredita, o uso eficiente de IA exige mais criatividade humana e não menos. Qualquer pessoa especialista em um determinado assunto que interaja com uma IA generativa percebe que, em seu estado atual, ela não produz nada original, mas é capaz de organizar, reescrever ou mesmo reestruturar ideias de uma maneira assustadoramente precisa.
Diferente de qualquer outra tecnologia emergente recente, as IAs generativas afetam processos intelectuais e vão exigir uma reformulação completa em atividades de planejamento intelectual, incluindo quase tudo que chamamos de design. Talvez esta seja a oportunidade para corrigirmos a rota no que diz respeito à própria prática de design instrucional. Aqui vale um complemento: quando a gente traduz design como desenho, tenho a impressão de que nos afastamos da ideia de que designers instrucionais são planejadores de ensino, reforçamos (como telas, conteúdos ou cursos), e em outras ensinar. Isso pode parecer uma “bobagem conceitual”, mas na prática é a diferença entre entender que o poder das IAs em contextos de ensino, pelo menos hoje, está na estruturação e não na produção de conteúdo, e entender a diferença entre estas duas coisas pode significar a diferença de uma boa produção e uma má produção intelectual desenvolvida com o apoio de IA.
Tenho trabalhado intensamente na formação de designers instrucionais e outros profissionais de ensino e estou cada vez mais convencido de que este poder que IAs generativas “concedem”, principalmente a profissionais experientes e com bom senso crítico relacionado ao processo de ensino, vai produzir uma nova geração de “super designers instrucionais”, que serão profissionais capazes de produzir soluções educacionais até inimagináveis.